VOCÊ QUER UMA TRANSIÇÃO EMOCIONALMENTE SAUDÁVEL E EFETIVA NA ADAPTAÇÃO ESCOLAR DO SEU FILHO?
Se a resposta é sim, vamos juntos aprender mais sobre este momento da vida dos nossos filhos! Primeiramente, pense comigo: não importa se é uma adaptação escolar ou uma readaptação pós férias, é sempre complexo, concorda?
Pode ser a primeira vez na vida em uma escola, ou em uma nova instituição e até mesmo na transição de uma série para outra. O fato é que todo começo gera um mix de emoções, entre boas e não tão legais assim. Isso vale para todas as pessoas – adultos, crianças ou adolescentes e gera uma carga de insegurança e ansiedade altíssima nas famílias.
O que eu quero dizer é que, se para nós, adultos, começar um curso novo ou mudar de trabalho dá um frio na barriga, imagina para uma criança?! Coloque-se por alguns minutos no lugar delas.
Antes de tudo, entenda o seu filho! Imagine-se um serzinho que está começando a perceber e experimentar o mundo. Tudo o que você conhecia até então era restrito praticamente ao ambiente doméstico. Pense agora como se sentiria sendo jogado dentro de uma sala onde ninguém é conhecido. Não é uma experiência assustadora?
Por isso, é extremamente importante que os adultos se desdobrem em atenção nesses rituais de passagem dos pequenos. O início da escolarização nem sempre é fácil, porém é muito importante e deve ser levado a sério. Todos são colocados a prova: a criança está sendo inserida em um mundo até então desconhecido e os pais sofrem com a ansiedade e o medo da reação do filho.
Aí você me pergunta: Mas Fernanda, o que eu posso fazer para essa adaptação
Primeiramente o processo de adaptação deve ser dotado de amor, confiança, compreensão e aprendizado. E para que você consiga se preparar bem para auxiliar o seu filho durante a adaptação escola, confira abaixo a cartilha e saiba como agir em cada uma das fases da escolarização: ANTES, DURANTE, DEPOIS E SEMPRE!
Mas antes, vamos entrar no mundo da criança e entender a adaptação pela ótica dela?
POR QUE AS CRIANÇAS TÊM DIFICULDADE EM IR PARA A ESCOLA?
- Crianças têm um apego e uma fusão muito forte com seus pais e sua residência, local onde ela se sente segura e está muito familiarizada. E sair dessa zona de segurança pode ser realmente apavorante;
- Crianças menores de 2 anos ainda tem algumas fortes sensações de separação mesmo em casa, como a noite, por exemplo, ou até o fato da mãe ir ao banheiro e sumir do seu campo de visão;
- O corpo da criança reage em situações de separação ou quando sentem essa possibilidade de se separar do seu cuidador e é estimulado a “atacar”, pois se sente ameaçado: grita, chora, corre, se joga no chão. Ou seja, é realmente muito sofrido para a criança;
- Para um bebê, se a mãe não está no seu campo de visão, ela não existe, essa noção de permanência está em formação e mesmo as crianças de 2 anos ainda tem essa dificuldade de entender que a mãe sai e vai voltar;
- A criança, depois de um tempo na escola, pode sentir uma outra dificuldade, que é a de estar longe de uma pessoa que entende os sinais dela, que entende a sua linguagem primitiva;
- Quando a criança está aprendendo a falar, ela fala tudo errado, mas a mãe sempre entende e às vezes para ela é muito frustrante ir para a escola e ninguém entender o que ela quer dizer;
- A criança é muito abstrata! Muitas vezes ela descobre que terá aula quando você coloca o uniforme nela e ela “surta”, pois não estava preparada para isso. Para você, pode ser natural que tenha aula na segunda, mas pra ela não;
- A criança tem uma dificuldade de se conectar e se desconectar das pessoas e lugares. Toda vez que uma criança vai sair de um lugar para ir para o outro, ou que vai acabar uma situação para começar outra (parar de comer para tomar banho), demanda que essa criança se desconecte e conecte novamente. É preciso que ela entenda, assimile e aceite cada uma dessas novas situações. E isso demanda tempo. Vou explicar como!
IMAGINA SE VOCÊ CAI EM UMA BANHEIRA MUITO GELADA!
Você prefere entrar direto na banheira gelada ou ir aquecendo ela aos poucos pra entrar de forma mais agradável e segura? A escola é a banheira gelada, com gelo. Quando a criança olha pra escola (banheira) pela primeira vez: ual, que legal!!! Mas entrar na água gelada sozinho não é fácil, é desesperador. A água gelada (deixar a criança na escola sozinha) provoca liberação de hormônios que deixam a criança pronta pro ataque: choro, agressividade, etc… Por isso, aqueça a água da banheira junto com ela, vá entrando aos poucos, bem juntinho e sentindo o gostoso da água ficando morna.
OBSRVAÇÕES IMPORTANTES!!! FICO CHOCADA QUANDO:
- Um educador fala com a mãe: nossa, ela é muito apegada com você!
Eu: Lógicoooo!!! Errado seria se não fosse, certo?
- Um educador fala: Nossa, ela gosta de ficar só com você, tá grudada demais!
Eu: Lógicoooo!!! Errado seria se não fosse, certo?
- Um educador fala: Nossa, essa mãe está dando mais trabalho que o filho.
Eu: Essa pessoa nunca foi mãe e não entende de maternidade.
CONFIRA O PASSO A PASSO PARA FACILITAR A ADAPTAÇÃO ESCOLAR DO SEU FILHO
SEMPRE
1 – O primeiro passo e talvez o mais importante dele: quanto tempo leva o processo de adaptação escolar? A criança define! Deve acontecer no tempo dela! A família e a escola têm o papel de encorajar e facilitar o processo. A escola não deveria definir esse tempo, mas sim formas diferentes de organizá-lo, que pode ser alterado de acordo com a necessidade de cada criança e que precisa muito ser respeitado. Algumas crianças se adaptam em uma semana, outras em 15 dias, outras em 30 dias. E ainda há as que se adaptam nos primeiros dias e que na semana seguinte podem apresentar dificuldade em querer permanecer na escola. Repito: o tempo e da criança e não da escola e muito menos dos pais;
2 – Encha o copo dos afetos do seu filho antes da aula. Se a aula é às 13:00, tente ficar de meio dia até começar a aula bem conectado e entregue ao seu filho, por exemplo, com momentos divertidos e amorosos. Faça isso sempre e, principalmente, se seu filho estiver passando por algum desafio ou com dificuldade de adaptação;
3 – Não verbalize a sua insegurança para a criança e cuide dela para não passá-la de outras formas. As crianças não devem carregar a nossa insegurança pois já tem que vivenciar a delas.
4 – Sempre ajude a criança a passar pelos 3 passos da desconexão e conexão de uma nova atividade: ENTENDER, ASSIMILAR E ACEITAR. Vá avisando com antecedência sobre o novo acontecimento que estar por vir com o máximo de antecedência possível (entender), verifique se a criança já está preparada (assimiliar) e só assim, vá para o último passo (aceitar). Isso vale pra tudo, festas, ir na casa da avós, etc. E uma coisa super importante para esse processo fluir bem é objeto de transição. Levar um objeto importante da criança para a aula. Ela levar uma massinha pra da escola pra casa. Olha o exemplo da sacolinha surpresa dos aniversários! É um objeto de transição!
ANTES
- Se prepare com muita antecedência. Quando digo se prepara é sobre você, mãe e seus sentimentos e angústias!!! A criança e o bebê se fusiona muito nas nossas emoções. Eles lêem nossas micro expressões, sentem a alteração dos nossos batimentos cardíacos, enfim, eles sentem a nossa ansiedade. Então, cuidem de suas emoções e expectativas;
Durante, no mínimo, 21 dias, na hora de dormir, conte histórias sobre crianças que estão entrando ou voltando para as escolas. Invente histórias de desafios que as crianças passaram e mostre o quanto elas foram felizes e ficaram orgulhosas por tentarem e conseguirem. Conta coisas incríveis que elas aprenderam na escola;
2 – Uns 10 dias antes, vá falando da rotina com muita segurança e entusiasmo, explicando todos as etapas: você vai chegar, terá um momento para brincar, depois o parquinho, depois da rodinha a mamãe chega. A mamãe sempre chegará! Repita isso várias vezes.
3 – Antes do início das aulas, veja se é possível levar a criança para passear alguns dias na escola. Deixe-a livre para explorar, brincar e ir se conectando com o território sem pressa, demandas e obrigações;
4 – Tente promover encontros com os futuros amigos;
5 – Se possível, conheça os professores e tente marcar encontros fora do início das aulas, que tal sugerir isso para a escola?
6 – Deixe a criança participar da compra de todo o material escolar, criação das etiquetas, organização, fazer as capas, etc…Deixe ele ser protagonista na escolha de todo o material. Isso gera autorresponsabilidade e pertença;
7 – Pode facilitar muito a adaptação escolar escolher apenas uma pessoa para participar do processo com a criança, que siga firme na mesma postura durante todos os dias. Quando cada dia vai uma pessoa, a criança pode se sentir mais insegura com as diferentes posturas do adulto. E de preferência, que seja o pai ou a mãe.
O ideal é não delegar esta tarefa a outro familiar, como avô, avó, dinda, e que também não tragam toda a família para a adaptação;
8 – Na oportunidade a criança já conhece a sua professora e a sua sala e traz todo o seu material escolar para que possa ser organizado para o primeiro dia de aula.
DURANTE
1 – No período de (re)adaptação é crucial que se mantenha a rotina da criança e evite ao máximo mudanças, como retirada de bico e fralda, por exemplo;
2 – Não faça comentários sobre a adaptação da criança em sua presença, tipo: “Nossa, foi um chororó, não desgrudou da minha perna, que vergonha.”
3 – Não faça nenhum tipo de barganha: se você não chorar eu te levo para tomar sorvete depois da aula. Pode ser muito mais sofrido para a criança ter que segurar suas emoções e se calar. Ela pode inclusive adoecer, pois as emoções terão que sair de outra forma: febre, diarreia, etc;
4 – Nos primeiros dias de aula, conduza a criança caminhando, e não no colo, até a professora. Isso facilita o ritual de entrada em sala;
5 – Nunca (eu disse NUNCA) saia escondido e despeça sempre de forma natural. Você pode quebrar todo o vínculo de confiança e piorar bastante o processo;
6 – Crie um ritual de despedida, uma dancinha, uma frase, um desenho na mão…e/ou um objeto da saudade (objeto de transição): uma naninha, o bico, um ursinho, carrinho, boneca;
7 – É muito comum que o primeiro e segundo dia, como tudo é novidade, sejam mais tranquilos. E por parecer tranquilo, não ache que precisa sair ou ir embora sem se despedir. Sua presença é indispensável para a transferência do vínculo afetivo. Mas é totalmente natural que quando a novidade acabe, a partir do terceiro dia, seja mais desafiante. Paciência e acolhimento;
8 – Acolha e valide o choro. Esteja lá para seu filho sempre que ele precisar da sua referência ou até o dia do combinado que a escola fizer com você;
9 – Tudo que seu filho te pedir, direcione-o para pedir o professor. Ele precisa ser a referência na escola e não você.
DEPOIS
E por último, mas não menos importante, participe ativamente da vida escolar do seu filho, nunca negligencie a infelicidade dele na escola, esteja sempre atenta a todos os acontecimentos e ande sempre de mãos dadas com a escola.
Quando a criança, nos momentos de vulnerabilidade, aceita o acolhimento do professor, a adaptação escolar está completa!